
Gustavo Francesconi, 1986 - Minha prática artística se constrói a partir de uma cosmovisão híbrida, na qual a cor não é apenas um fenômeno físico, mas uma lente através da qual investigo a realidade. A cor e suas propriedades, surgem como uma chave que desbloqueia dimensões fisicas e filosóficas, revelando discussões sobre como percebemos e interpretamos o mundo. Como uma metáfora para a percepção e a existência. No espaço cromático encontro uma sintonia entre o material e o imaterial, entre a estrutura física do mundo e a nossa experiência subjetiva dele.
Cor é luz, vibração, energia, vida. Circular como o tempo que se revela na mente e no corpo como uma forma de saber. Luz é reflexão sobre a realidade que nos cerca. Busco dar forma ao que se escapa da percepção imediata. Nesse processo, a realidade transcende sua condição visual para se tornar uma linguagem de sentidos universais, que se expande para ambientes sonoros de ações performáticas, que ampliam a realidade e a relação entre os sentidos.
+ 55 - 41 98884 8768
EXPO : Ouroboros
2022
curadoria: Isadora Mattiolli
coletiva
Adriana Tabalipa / Celestino Dimas
Eduardo Amato / Érica Storer
Eleonora Gomes / Fernanda Pompermayer
Gustavo Francesconi / Jonas Sanson
Leo Bardo / Leonardo Franco
Marita Bullmann / Miguel Thomé
Renata Silvério / Rique Silva
PF -Plataforma Flex
Curitiba - PR
pic : Andrea Maya




texto : Leo Bardo . 2021
Outros planetas outras paisagens: a fabricação do sol noturno
Então as imagens se compõem e se ordenam, e o sonhador escuta já os sons da palavra escrita.
— Gaston Bachelard
Dentro do círculo infinito muitas coisas escapam ao nosso olhar. Perguntamo-nos sobre a natureza de algo. Como o mundo veio a existir? O que há depois da morte? O que é escolhido para ser visto? O que vemos é afetado pelo o que sabemos? E se estivéssemos diante do nada? Como suportar o nada? Vastos espaços desérticos, o tempo e a visão, as sonoridades na natureza. Profusão & Ressonância.
Investigando a natureza filosoficamente, o trabalho toma forma na pintura, som, objeto, escultura e colagem. O artista realiza uma transposição deste sistema de signos com o qual o espaço em que vivemos pode ser entendido e, através da sensação e da percepção das cores — processos psicológicos — compõe novas paisagens num movimento que, intuitivamente, facilita-nos na localização de lugares por nós desconhecidos.
Ou, conhecidos somente em sonho, ajudando-nos a compreender que a paisagem existe antes de nós. Estar diante dos trabalhos é deparar-se com uma atmosfera onde elementos geométricos dialogam em formas circulares, rotundas, sóis, células e glóbulos que, através da imersão em ilhas de cor, geram emoções, exigindo do espectador um outro tipo de percepção do fluxo do tempo e do espaço — este, em Bachelard, entendido como uma construção.
Em contato com diferentes linguagens da arte, incluso a performance art, podemos observar que predominam nas atitudes do artista soluções incomuns para o uso de seus suportes e materiais. O uso do corrosivo sobre a tinta gera diferentes texturas que agem juntas num mesmo suporte. As formas circulares com intervenções químicas assemelham-se à materiais esponjosos, cruzando mais uma barreira: a do caráter usual de figura e fundo da pintura de paisagem.
A paisagem é o que não vejo. Nós vamos, e a paisagem fica como a memória monumental dos vestígios do tempo. Da água, batendo até furar. Do vento, soprando até gastar. Waste lands. Auroras austrais. A cor conversando com o silêncio. As temperaturas. O calor ali, olhando de volta para você. Então, o corpo encontra o desconhecido, tornando-se rocha ao dançar com a natureza.
CURTA : estamos Quase lá
2020
direção
Jonas Sanson e
Fernanda Pompermayer
47 Casa de Criadores
São Paulo - SP
Fashion Film : REPTILIA
EXPO : 3 Atos - Agora Estamos
2019
coletiva
Eduardo Amato / Eleonora Gomes
Gustavo Francesconi / Milena Costa
Nico / Pedro Vieira
PF - plataforma flex
Galeria Ponto de Fuga
Curitiba - PR
pic : Isabela Glock




Texto : Eduardo Amato
Afeto. Se no início fomos e no fim voltamos, hoje ficamos. Não em um lugar, mas em um estado d'alma. Um microcosmo brechtiano de legados sócio-culturais. Vamos falar aqui sobre herança - que produz algo novo no presente recorrido do passado. Onde fomos.
E se "o passado é um país estrangeiro” (Hartley, 1953) quais as lombadas que delimitam cada território? E digo aqui lombada, na tentativa de por alguns minutos não falar em muros. Queremos falar dos portões; dos caminhos. Dos caminhos que cinco artistas tomaram para chegar aqui e a partir daqui. Queremos falar sobre atravessamentos, portanto pareceu coerente partir de uma estrutura de exposição cruzada. Pois além de cruzados nossos processos, é também nossa pulsão. Aqui (ou ali), Margit L. entrega uma frase que talvez seja a chave dessa exposição: diferente de uma orquestra, estamos aqui num concerto de câmara, onde cada músico toca um pouco mais baixo para escutar o outro.
Somos os vaga-lumes viajantes do meio da noite. E aqui estamos. E ficamos. (por ahora)
Desperta América do Sul: Apresentamos uma(s) exposição(ões) de cinco artistas brasileiros, produzindo em Curitiba, em 2019. O resultado vivencial de diferentes sujeitos à escuta. Falando sobre três atos. A chegada, a estadia e a partida. E se Matisse acabou com a dança, propomos um ciclo na PF. Eleonora Gomes (Curitiba 1979) chegou aqui 2014, logo no início, comigo, Eduardo Cardoso Amato (Castro 1991). Ela excede o círculo de giz e toma o espaço, traça nele a instalação Pés. Ela convive conosco. Gustavo Francesconi (Joinville 1986) está aqui há pouco e com telas e experimentações com espuma expansiva delimita coordenadas investigativas tomadas em sua pesquisa, relacionando cor e matéria em distintos planos perceptíveis. Além de efeitos visuais, uma trilha transdisciplinar entre técnica e poética, levado por bases prática-teóricas da ciência e da semiótica. Como na escolha da espuma, que dilata seus limites para se moldar ao espaço. As cores também são cores, mas são dispositivos de observação de outras constelações fora das barreiras terrestres.
Milena Costa (Curitiba 1982) e o Pedro Vieira (São Paulo 1983) vieram nos buscar. Dirigem a Galeria Ponto de Fuga e percorrem caminhos processuais juntos. Nos mostram trabalhos realizados entre 2006 e 2019 que versam sobre a questão da latinidade. Ao longo dos anos eles vêm trabalhando desde este território cultural, geográfico, político e imaginado chamado América Latina. Produzem deslocamentos, imagens, performances, escritos e reflexões.
As lombadas viraram pontes à tempo de passar. Daqui para lá - performance de Eduardo Cardoso Amato propõe o alongamento do espaço expositivo para a Galeria Ponto de Fuga.
COLETIVA
2025 - ARMADILHA DE LAGOSTA
Coletiva - Curadoria Renata Mocellin
Edifício Everest
Curitiba - PR - jan.fev
2024 - PONTO DE PARTIDA
Coletiva - Curadoria Edson Cardoso
AVA Galeria - Fábrica Bohering
Rio de Janeiro - RJ - nov.dez
2022 - OUROBOROS
Coletiva - Curadoria Isadora Mattiolli
PF - Plataforma Flex
Curitiba - PR - nov.dez
2022 - MONUMENTOS INVOLUNTÁRIOS II
Coletiva - Curadotia Yifta Peled
Contemporão em Vix
Vitória - ES - jun.set
2021 - PROYECTO ENAJENAR
Coletiva - Casa Ajena - Centro Cultural de España Juan de Salazar
Assunción - PAR - mar.abr
2020 - MONUMENTOS INVOLUNTÁRIOS
Coletiva - Curadotia Yifta Peled
Contemporão
São Paulo - SP - set.out
2019 - 3 ATOS - agora estamos
Coletiva - 14ª Bienal Inter. de Curitiba
Circuito Galerias
Ponto de Fuga PF + Apoc
Curitiba - PR - set.out
2018 - BEIRADA DA SUPERFÍCIE
Coletiva - Curadoria Lilian Gasen
Boiler Galeria
Curitiba - PR - mai.jun
2017 - A COR DA PELE
Coletiva - Art Weekend
Galeria Caribé
São Paulo - SP - nov
2017 - MULTIPLOS
Coletiva - Curadoria Livia Fontana
Boiler Galeria
Curitiba - PR - jul.ago
2016 - ACERVO QUADRA
Coletiva - Galeria Quadra
Rio de Janeiro - RJ - nov.dez
2016 - ARTE NA FABRIKA
Coletiva - Curadoria Malu Meyer
Goethe Institut
Curitiba - PR - out.nov
2016 - CCC #1
Coletiva - Curadoria Clube da Colagem
SESC Centro - Coleitva
Curitiba - PR - jul.ago
2016 - VENTOS DO SUL
Coletiva - Curadoria Raphael Dias
Acervo Diária
São Paulo - SP - mai.jun
2015 - ACERVO SOMA
Coletiva - Curadoria Malu Meyer
Soma Galeria
Curitiba - PR - dez.jan
INDIVIDUAL
2024 - LATINO CONVIDA
individual - Curadoria estudio latino
Estudio Latino de Design
Curitiba - PR - mar.abr
2019 - ENSAIO CIRCULAR
Individual - Apoc Galeria
Curitiba - PR - mar.abr
2017 - ENTRE PLANOS
Individual - Curadoria Livia Fontana
Boiler Galeria
Curitiba - PR - mai.jun
2016 - PAR.TI.CU.LAR
Individual - Curadoria Eduardo Amato
Acervo Diária
São Paulo - SP - ago.out
2016 - SINAPSES
Individual - Curadoria Livia Fontana
Boiler Galeria
Curitiba - PR - jun.jul
2016 - INTERIORA
Individual - Curadoria Giusy De Luca
Galeria Mucha Tinta
Curitiba - PR - fev.abr
2015 - ORIGENS
Individual - Curadoria Livia Fontana
Boiler Galeria
Curitiba - PR - jun.jul
2014 - APOC
Wake up Colab - Individual
Curitiba - PR - ago.set
RESIDÊNCIA
2023 - THE ART FARM
com Antonio Cláudio Carvalho
PALM 3333 - Fazenda Das Palmeiras
São José do Barreiro - SP - set
2021 - ARTECHS WINTER RESIDENCY
Technische Universität Berlin
Berlin - GER - jan - online
PERFORMANCE
2021 - TELEFONE SEM FIO
Performance Art com Eduardo Amato
Direção: Fernanda Pompermayer
Apoc Studio
Curitiba - PR - jul
2021 - MOTHER TONGUE
Performance Art com Eduardo Amato
Direção: Jonas Sanson
GRACE Exhibition Space
New York - USA - abr - online
2021 - PERFORMANCECOISA #3
Performance Art com Adriana Tabalipa . Eduardo Amato . Eleonora Gomes . Leo Bardo
PF - Plataforma Flex
Curitiba - PR - fev
2020 - PERFORMANCECOISA #2
Performance Art com Eduardo Amato . Eleonora Gomes . Erica Storer . Janete Anderman . Leo Bardo . Jonas Sanson
PF - Plataforma Flex
Curitiba - PR - dez
2020 - PERFORMANCECOISA #1
Performance Art com Adriana Tabalipa . Janete Anderman . Leo Bardo . Eduardo Amato . Eleonora Gomes . Fernanda Pompermayer . Jonas Sanson
Porto Amazonas - PR - set
2020 - O OVO E A GALINHA
Performance Art com Eduardo Amato . Adriana Tabalipa . Eleonora Gomes . Fernanda Pompermayer . Jonas Sanson . Leo Bardo . Miguel Thomé Oliari
PIVÔ : Desktop Aberto
São Paulo - SP - jun
2020 - PANO
Performance Art com Mariana Barros .
Janete Anderman . Eduardo Amato
Mostra Cadeado : Plataforma Flex
Curitiba - PR - jan
2019 - NATUREZA VIVA
Performance Art com Eduardo Amato
MUCANE - Museu Capixaba do Negro
Vitória - ES - ago
2019 - BAILE NO PALÁCIO
Performance Art com Eduardo Amato
Ocupa Cândido : Equinócio
Campinas - SP - mai
2018 - CANÁRIOS DA MINA DE CARVÃO
Performance Art com Eduardo Amato
3º Festival Curto-Circuito
Chapecó - SC - dez
2017 - ENSAIOS SOBRE TRADIÇÃO
3º Ato - Pidyon Haben
Performance Art com Eduardo Amato
Galeria Andrea Rehder
São Paulo - SP - nov
2017 - ENSAIOS SOBRE TRADIÇÃO
2º Ato - Havdalá
Performance Art com Eduardo Amato
Fábrica da Bhering
Rio de Janeiro - RJ - nov
2017 - ENSAIOS SOBRE TRADIÇÃO
1º Ato - Shabat
Performance Art com Eduardo Amato
Soma Galeria
Curitiba - PR - nov
INSTALAÇÃO
2020 - VOLUME
Peso Expandido #4 - Táticas Móveis
em Arte Contemporânea
Individual - PF - Plataforma Flex
Curitiba - PR - fev
2019 - A LEI - CAUSALIDADE
Mostra Guia : Plataforma Flex
Individual - Curadoria Leo Bardo
Curitiba - PR - ago
2015 - TRIADE
Festival Fora da Forma
Curitiba - PR - 9-12.out
CURADORIA
2018 - KOLLEKTIVET II
Curadoria - Mostra Sonora
Boiler Galeria
Curitiba - PR - ago
2016 - KOLLEKTIVET I
Curadoria - Mostra Sonora
Boiler Galeria - Mostra Sonora
Curitiba - PR - jul
FEIRA
2015 - BERLINER LISTE
Berlin Kraftwerk - Coletiva
Berlin - GER - set
PRÊMIO
2020 - MELHOR CARTAZ DE FILME
Os Herdeiros de Adriel Nizer Silva
5º Cine Tamoio - Festival de Cinema
São Gonçalo - RJ - set
LEILÃO
2016 - NAMELESS
Organização - Malu Meyer
Curitiba - PR - mar
TRILHA
2017 - DESFILE JACU
Id-Fashion / FIEP - Performance Sonora
Curitiba - PR - set
CURTA
2020 - ESTAMOS QUASE lÁ
Argumento - Atuação - Design Gráfico
47ª Casa de Criadores - Para Reptilia
São Paulo - SP - nov
EXPO : Ensaio Circular
2019
individual
Apoc Galeria
Curitiba - PR
pic : Flávia Wolf
Mateus Trevisan




EXPO : Na Beirada da Superfície
2018
coletiva
Adriana Tabalipa / Adriele Tornesi
Felipe Scandelari / Gustavo Francesconi
Janete Anderman / Lívia Fontana
Maya Weishof / Taigo Meireles
Boiler Galeria
Curitiba - PR
pic : Fabiana Caldart




Texto : Lilian Gassen
Olhar o mundo a partir de sua superfície é entender-se como um corpo que percebe seu entorno como ‘seu lugar’ e não como uma exterioridade. O sentido de superfície mistura, por movimento contínuo de intercâmbio, ideias distantes, práticas históricas, geografias, sensações. Isso porque, paradoxalmente, a superfície das coisas pode ser uma película de separação entre aquilo que a coisa é daquilo que ela não é, como nossa pele, parte externa e visível de nossos corpos, que nos separa daquilo que não somos. A superfície pode ser algo sem profundidade, algo rasteiro, do qual pouco ou quase nada entendemos, ou percebemos. Também pode ser um lugar determinado no mundo, como a superfície dos Andes ou a superfície de um lago. Ela ainda pode ser pura ideação, uma fantasia ou projeção do espaço bidimensional. E todos esses “podem ser” da superfície perpetuam sua condição de comutação. ** A superfície destrói a linha de contorno, a divisa, e no lugar propõe a mutação do sfumato.
Em um passado de nosso tempo se dizia que “as primeiras partes da pintura são as superfícies”. *** Naquele momento, a superfície tinha um duplo sentido intercambiável; aquele relativo à aparência da exterioridade das coisas, e aquele que se refere ao plano de projeção [a janela]. Esses dois sentidos estão, portanto, submetidos à noção de representação/ficção. A imagem reconhecível dita as características das superfícies do objeto pintura como equivalente de ‘imagemcoisa’; neste caso, palavras inseparáveis por sentido e ordenamento constituído, pois aqui a imagem está antes da coisa, repousada, encobrindo-a. O reflexo na superfície do espelho é tão vívido que impede de ver o espelho. Esta é a superfície que se camufla na sedução do mundo que se replica.
Mas, se a superfície é a primeira parte da pintura, como não vê-la? Como não permitir-se levar por sua topografia? Agora, em outro passado de nosso tempo, quando a noção de fronteira era indispensável à compreensão das coisas e do mundo, a superfície ganhou espessura e se separou. Então, seu novo sentido passa a ser de “uma superfície que expressa igualmente os resultados das forças internas e externas” **** a si mesma. Perceber a imagem do mundo significa interferir nesse mundo, deixar a marca de sua mão nele. Este outro sentido de superfície contém a representação/ficção pela materialidade do fato. A imagem reconhecível está separada perceptivelmente de sua forma de fixação como itens distintos: a ‘imagem e a coisa’ ou a ‘coisa e a imagem’. O reflexo e o espelho se tornam presenças pela percepção/ação. Esta é a superfície que evidencia a rugosidade do mundo.
“O fenômeno da demolição do quadro, ou da simples negação do quadro de cavalete, e o consequente processo (...) da criação sucessiva de relevos, antiquadros, até as estruturas espaciais ou ambientais, e a formulação de objetos, (...) numa linha contínua, até a eclosão atual” ***** nos fizeram perceber o mundo como superfície. Achatadas pela literalidade dos fatos e enredadas por nossa própria ficção, construímos a ‘coisaimagem’. Nestes tempos de instantaneidade, o mundo, sua projeção no espelho, o próprio espelho e o ato de observar são e estão na superfície, coabitando. Se, por um lado, esse entendimento deixa tudo rasteiro e ordinário, por outro, “deshierarquiza”, horizontaliza as relações, nos deixa mais próximas e parecidas. Esta é a superfície que nos une. Perceber a superfície, portanto, é sentir essa pele macia e sedutora, ao mesmo tempo em que nos confrontamos com o ritmo das cicatrizes incongruentes de nossas histórias nela gravada. Esta exposição propõe essa percepção a partir da beirada e sem parapeito para nos proteger. Daqui, podemos ver alguns tipos de superfície, presentes conosco.
* SARAMAGO, José. A história como ficção, a ficção como história. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis : EDUFSC, n.27, p. 09-17, abr. de 2000.
** VIRILIO, Paul. Espaço crítico. Tradução Paulo Roberto Pires. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. pg. 13.
*** ALBERTI, Leon Battista. Da pintura. Campinas: Editora da UNICAMP, 1989. pg. 107.
**** KRAUSS, Rosalind. Caminhos da escultura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1998. pg. 36.
***** OITICICA, Hélio. Esquema geral da Nova Objetividade. In: FERREIRA e COTRIM (org). Escritos de artistas: anos 60/70. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. pg. 156.
EXPO : Entre Planos
2017
Individual
Boiler Galeria
Curitiba - PR
pic : Fabiana Caldart




Texto : Eduardo Amato
Qual foi a reação dos nossos ancestrais diante da primeira faísca ao lascar as pedras? Ou quando Einstein chegou a fórmula da teoria da relatividade? É nesse milésimo de segundo diante de um grande feito que a obra de Gustavo parece se encontrar. O trabalho não se relaciona apenas com o campo da arte. Vai muito além. Pensa teorias e experimentos científicos via estruturas sensoriais. Não há, por um lado, uma preocupação em esclarecer conceitos já estabelecidos; há entretanto uma provocação, uma insinuação do que tenderia um experimento científico no campo da arte, enquanto resultado visual. Por suposto que existe uma pesquisa de fundo, pela qual é esclarecida através da escolha de cada forma, volume e composição das obras, como se tinta fluísse nos nervos do artista.
É um trabalho preciso, como um cálculo matemático ou uma fórmula química, isento de falhas. Mas não é um trabalho automático, com regras de continuidade; em cada obra Gustavo nos oferece uma fórmula para uma nova descoberta. Os trabalhos se relacionam como estações de pesquisa em um laboratório expositivo. Se existe uma teoria de organização no caos, é dessa paleta que o artista se alimenta, pulsante e nunca inerte.
Ainda como nos grandes feitos, os acasos na obra de Gustavo dividem lugar face a metodologia, sejam como descobertas técnicas ou como respostas a questionamentos do artista. A impermanência dos materiais nos suportes utilizados respiram e se configuram como próprios sujeitos nessa rede de tantos elementos que formam a obra de arte. O lugar de suas obras não se resume ao espaço expositivo, mas reverbera e permeia por nosso subconsciente ativando campos sensoriais de até, eu diria, autoconhecimento.
Qual o papel do espectador e qual seu lugar dentro da obra?
A pintura como registro de um tempo, e do próprio tempo, torna-se um portal que vai diante ao "momento final" do artista, reflete o presente como um espelho e nos faz viajar de volta para o momento que vivemos, tornando a obra sempre contemporânea através desses infinitos fluxos de compreensão. Arrisco em dizer que quando cria, o artista prevê possíveis caminhos interpretativos por saber exatamente como e do que esta falando. Tais chaves de interpretação que nos são dadas, cedem lugar a um arquétipo crítico onde a obra é clara e sem falsas teorias subjetivas e superficiais.
Nesse sentido Gustavo produz situações pictóricas que devem ser compostas pelo espectador, interlocutor ou viajante, produzida como um negativo a ser revelado no momento de contemplação. A complexidade da obra não se desfaz com o alto grau de autonomia proposto à contemplação, ele não trabalha com "gosto pessoal, mas com todos os gostos pessoais”*. E se o conteúdo da pintura - por vezes - é invisível e seu caráter e dimensão devem ser mantidos secretos sabidos somente pelo artista**, a presente exposição é um convite à humanidade pensar em arte e sobre arte.
* Apropriação de trecho do texto do artista principense Almada Negreiros (1893 – 1970).
** A frase foi retirada da obra Secret Painting do coletivo Art & Language (1968).
CURA : Kollektivet - Mosta Sonora
2016
coletiva
Galena / R.C.C.B / kambô Music Nerds
Boiler Galeria
Curitiba - PR
pic : Gosmma




EXPO : Particular
2016
Individual
Galeria Lime
São Paulo - SP
pic : Raphael Dias




Texto : Eduardo Amato
A escolha da gravura como alicerce principal é aqui um dos pontos de partida de análise. Historicamente a gravura ocupa lugar importante como suporte para confecção de partituras musicais. Elas voltam como uma paisagem humana e particular; como uma delimitação de tempo e espaço. Não me abstenho em dizer que essas partículas pulsantes e dinâmicas ecoam através das telas e o tempo todo estamos aprendendo com a generosidade das obras.
Vou mais além e comparo a descontinuidade sonora com a unicidade de um resultado gravado no tempo, quando aparecem os materiais reflexivos proponho uma investigação íntima sobre o espelho como duplo, como superfície para a matriz - espectador. Articulo o intervalo visual desse reflexo como desdobramento de tempo. Não a visão cartesiana nem pragmática, mas uma versão fluida, diretamente e/ou involuntariamente conectada as serigrafias sem uma matriz fechada. Parecem elas frequências pulsantes, as mesmas depois ilustradas em formas circulares, em constante expansão; e isso é alguma coisa de maravilhoso e nos faz crescer dentro das suas possibilidades.
Nos materiais pendentes reconheço a especificidade da gravura e nesse deslocamento infinitas possibilidades gravadas no espaço. Ali a matriz é o próprio tempo ultrapassando uma visão que já existe nos trabalhos anteriores e questões técnicas, usando-as como instrumento para as formas de expressão. Mudam os conteúdos mas essa capacidade e receptividade de criar e continuar a surpreender fazem dessa fase vital - não existem segredos, a arte é feita aqui de experiências e constatações.
VIDEO : Teaser Expo Apoc
direção : Mateus Trevisan
2014